Federação União Progressista pode virar Cavalo de Tróia para João

Já existe ovo de serpente no ninho da Federação União Progressista no que diz respeito ao território político da Paraíba.

Não tem perigo de o vídeo de um dos principais dirigentes da nova organização partidária, o senador Ciro Nogueira (PP), entregando um broche da federação ao “capitão” Bolsonaro, não ter plantado desconfiança e temor entre os parceiros paraibanos.

O questionamento mais simples, mas de grande valia para o futuro logo ali, que é 2026, é sobre qual o tamanho e força do senador Ciro Nogueira, um político que não tem comedido nas manifestações de paixão política explícita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

As informações que se repetem em notas na imprensa nacional são no sentido de que Nogueira sonha e articula para ser candidato a vice-presidente da República numa chapa bolsonarista. O ideal seria ser vice do próprio Bolsonaro, mas, na impossibilidade dessa candidatura, haveria contentamento em ser companheiro de chapa de Michelle Bolsonaro ou de qualquer dos filhos do ex-presidente.

As dúvidas vão se assomando: e a federação foi fundada para isso,

para dar e ao sonho do senador Ciro Nogueira? O que é que a Paraíba tem a ver com isso?

Pode-se até alegar que as lideranças do Progressistas e do União Brasil gostariam de ver seu dirigente nacional na chapa presidencial. Até aí, tudo bem. Todavia, talvez seja interessante observar que a situação desses aglomerados políticos na Paraíba é bem mais complexa.

O problema é que a Federação União Progressista está prestes a herdar o poder estadual (governo), com a possibilidade de o manter nas urnas, se a aliança política da qual participa for mantida. Registre que o poder em jogo foi conquistado e é controlado por forças políticas progressistas, que am longe do palanque bolsonarista de Ciro Nogueira. Essas forças políticas têm segurança na operação de transferência de poder ou garantia de contrapartida equivalente?

Lógico que a reeleição do governador João Azevedo (2022) dependeu de alianças, inclusive com a participação do Progressistas, mas a hegemonia do poder político no Estado é das forças de centro-esquerda e remonta a um processo de pouco mais de 20 anos. E essas forças sempre estiveram do lado do presidente Lula. O atual governador João Azevedo faz questão de apregoar essa coerência.

Dedo na ferida: quer dizer, então, que a Federação União Progressista vai herdar o governo e, de repente, por força da candidatura do senador Ciro Nogueira ou outra razão política, acabará na aliança nacional bolsonarista, é isso?

Onde ficariam PSB, PT, PCdoB, PV, etc.? Onde ficaria o palanque de Lula e da candidatura ao Senado do governador João Azevedo?

Perceba-se que o cenário que se desenha, plenamente possível, assume características de um Cavalo de Tróia político, no qual as forças de esquerda e de centro-esquerda estariam dentro por conta de projetos e questões locais, mas se veriam presas ao conservadorismo radical bolsonarista capitaneado pela direção nacional da federação.

Haverá quem contra-argumente, com certa razão, que os partidos políticos no Brasil costumam respeitar dissidências nos Estados e que essa frouxidão ético-política se repetirá em 2026. A questão em tela é diferente porque não se trata de uma aliança qualquer, mas do destino ideológico do poder na Paraíba e no Brasil, mudanças profundas.

As forcas de esquerda e centro-esquerda na Paraíba podem confiar nessa federação? Essas forças democráticas estão dispostas simplesmente a abrir mão do poder e rumos que deram às políticas publicas na Paraiba nas duas últimas décadas? O governador João Azevedo deixará o governo nessas circunstâncias?

Além disso, destaque-se ainda que não há nem certeza com quem ficará o comando na federação na Paraíba, independente das alianças eleitorais para 2026.

Por mais que se queira normalizar as articulações políticas eivadas de contradições que estão o ocorrendo em Brasília sob o argumento que uma coisa é a política de Brasília e outra a política na Paraíba, as cenas de Ciro Nogueira com Bolsonaro, são sementes de confusão no território da aliança liderado pelo governador João Azevedo na Paraíba.

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