Veja como estimular o cérebro pode reduzir impactos do climatério
Práticas simples contribuem para manter a saúde mental e melhoram a concentração

O climatério é a fase de transição na vida da mulher que antecede a menopausa, marcando o fim do período reprodutivo. Ele envolve uma série de mudanças hormonais, especialmente a diminuição dos níveis de estrogênio, que podem provocar sintomas como ondas de calor, alterações de humor, insônia e dificuldades cognitivas. Neste contexto, atividades que estimulam o cérebro podem ajudar a reduzir alguns desses efeitos.
Um estudo recente publicado na Scientific Reports, chamado “In vivo brain estrogen receptor density by neuroendocrine aging and relationships with cognition and symptomatology“, começa a alterar a perspectiva sobre o impacto negativo no cérebro feminino devido à redução do estrogênio no organismo, o conceito da menopause brain.
Segundo a endocrinologista Sofia Pannunzio Hajnal, da clínica de longevidade Soul 8, em São Paulo, exercitar a mente pode contribuir para evitar sintomas característicos desta fase da vida, tais como perda da memória recente, dificuldade em resolver tarefas e em manter uma linha de raciocínio, confusão, exaustão mental, estresse, ansiedade e depressão.
“Esses sintomas estão ligados à queda dos níveis de estrogênio no corpo durante o período da pré-menopausa, porque esse hormônio atua em diversas funções cerebrais referentes à memória, cognição e humor”, afirma. Conforme a médica, a causa direta dessa relação ainda é inconclusiva.
Impacto da redução de estrogênio no cérebro
Segundo Sofia Pannunzio Hajnal, esta pesquisa da neurocientista ítalo-americana Lisa Mosconi, uma das maiores estudiosas da menopausa, publicada na Scientific Reports, acrescentou uma nova perspectiva à discussão. O estudo aponta que a diminuição na produção do estrogênio aumenta a densidade de receptores do hormônio em partes do cérebro responsáveis pela cognição, como o hipocampo, à medida que as mulheres am pelo climatério.
Esse crescimento do número de “antenas” captadoras de estrogênio no cérebro pode ter causado pior desempenho em testes de memória, alterações de humor e dificuldade cognitiva, realizadas durante o estudo.
“A reposição do estrogênio com hormônios é o principal tratamento para diminuir e evitar os sintomas do nevoeiro mental, ou ‘brain fog’, mas não só isso. Essa pesquisa contribuirá para o desenvolvimento de novas terapias focadas nos receptores do hormônio no cérebro, que podem trazer ainda mais conforto às mulheres na transição à menopausa”, diz a médica.

Métodos alternativos e complementares
Para a especialista da Soul 8, a pesquisa indica uma eficácia no uso de métodos alternativos e complementares à terapia hormonal para contornar os sintomas do climatério, a partir do conceito da neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de adaptar sua estrutura e funções por meio de estímulos internos e externos. “A mente é tão poderosa que consegue se reorganizar e criar novas conexões neurais ao longo da vida, sendo possível desenvolver determinadas áreas cerebrais”, explica.
Sofia Pannunzio Hajnal frisa que exercitar as áreas cerebrais responsáveis pelo intelecto fortalece os neurotransmissores da memória e aprendizagem, ajudando a compensar o declínio cognitivo que ocorre no climatério.
Entre as atividades que podem ajudar a evitar essas alterações, estão:
- Exercícios de memorização e repetição;
- Jogos de raciocínio lógico e resolução de problemas, sendo físicos, aplicativos de celular ou até videogames;
- Aprender novas habilidades, como idiomas, esportes ou tocar instrumentos;
- Participar de atividades que estimulem a mente, como grupos de leitura ou de debates e cursos.
Risco de Alzheimer e mudanças de humor
Com o declínio cognitivo que pode ocorrer no período da pré-menopausa, mulheres ainda têm um risco maior de desenvolver Alzheimer em comparação com homens da mesma idade. O estrogênio desempenha um papel importante contra a formação de placas amiloides — depósitos de proteínas tóxicas que se acumulam no cérebro de pessoas que sofrem com a doença. “A diminuição desse hormônio pode causar um aumento de 20% na formação dessas placas”, afirma Sofia Pannunzio Hajnal.
Mas é importante lembrar que o Alzheimer é uma doença multifatorial e pode ser causada por diversos motivos, como genética, estilo de vida, doenças cardiovasculares e idade. A menopausa, por si só, não determina seu desenvolvimento. “Não precisa ter medo. Com acompanhamento médico, hábitos saudáveis e atenção à saúde mental, é possível atravessar essa fase com qualidade de vida e bem-estar”, diz a médica.
Além dos impactos no sistema cognitivo, a mulher pode apresentar mudanças de humor em decorrência da menor produção de estrogênio. Essa redução contribui para quadros de irritabilidade, ansiedade e depressão durante o climatério. Isso porque o hormônio influencia a atividade e a conectividade da amígdala, área crucial do cérebro no processamento emocional, que sofre grandes oscilações nesse período.
Hábitos para uma vida mais saudável
Os exercícios mentais podem contribuir para a recuperação das capacidades cognitivas, mas é o estilo de vida que realmente promove mudanças duradouras. Adotar uma nova rotina pode garantir uma menopausa mais tranquila e ajudar a prevenir sintomas e condições futuras. Veja:
- Sono: o sono tem efeito reparador e ajuda a estabilizar desafios cognitivos e emocionais. O sono profundo é fundamental para a preservação do hipocampo, área central no desenvolvimento do Alzheimer e da demência. Pelo menos 90 minutos de sono REM (Rapid Eye Movement ou Rápido Movimento dos Olhos), fase em que ocorrem os sonhos, favorecem uma resposta emocional mais equilibrada ao longo do dia;
- Nutrição: muitos alimentos são boas fontes de estrogênio e podem oferecer benefícios significativos. A dieta mediterrânea, por exemplo, demonstrou reduzir alguns sintomas da menopausa, enquanto o consumo de carboidratos com baixo índice glicêmico (ricos em fibras) ajuda a prevenir a formação de placas amiloides;
- Atividade física: embora níveis mais altos de atividade física não atrasem comprovadamente a menopausa, a prática de exercícios apoia, de maneira direta e indireta, o manejo dos sintomas. Atividades aeróbicas, como corrida e caminhada, contribuem para a regulação da temperatura corporal e do humor durante esse período.
Por Marina Bergamo