Professor analisa conflito Israel-Palestina e alerta para os perigos do fundamentalismo religioso
O programa recebeu como convidado o professor Severino Celestino, pesquisador, escritor e estudioso do hebraico e das escrituras bíblicas, que já realizou 15 viagens a Israel desde o ano 2000

Foi ao ar neste sábado (19) mais uma edição do programa Tambaú Debate, apresentado pelo jornalista Josival Pereira, com uma abordagem especial sobre o conflito entre israelenses e palestinos. A pauta foi escolhida devido à proximidade com a Semana Santa, período associado à reflexão e à busca por entendimento.
O programa recebeu como convidado o professor Severino Celestino, pesquisador, escritor e estudioso do hebraico e das escrituras bíblicas, que já realizou 15 viagens a Israel desde o ano 2000. Durante a entrevista, o professor compartilhou experiências vividas na região e apresentou um panorama histórico, religioso e político do embate no Oriente Médio, destacando a complexidade do tema.
Segundo Celestino, o atual conflito não configura uma guerra entre os Estados de Israel e Palestina, mas sim um enfrentamento entre grupos específicos, como o Hamas e o Estado de Israel. Ele frisou que não há uma declaração oficial de guerra entre os dois países, e que o confronto envolve organizações de caráter fundamentalista, e não os povos ou suas religiões.
Durante o programa, o professor explicou as origens históricas e religiosas dos dois lados, citando que hebreus e árabes são descendentes de Abraão, por meio de seus filhos Isaac (judeus) e Ismael (árabes). A criação do Estado de Israel em 1948, com apoio da ONU, foi apontada como um marco para o início das tensões modernas, provocando resistência de países vizinhos como Egito, Jordânia, Síria e Líbano.
Celestino também destacou a diferença entre os termos israelita (relacionado à prática religiosa judaica) e israelense (cidadão do Estado de Israel), além de esclarecer que os palestinos são árabes que habitam a região nomeada Palestina pelos romanos na Antiguidade.
Sobre o Hamas, organização fundamentalista criada em 1987, Celestino afirmou que o grupo não representa a totalidade do povo palestino. Segundo ele, o Hamas ou de um grupo de ajuda social para uma organização armada que não reconhece a existência do Estado de Israel. Em contraponto, citou o Fatah, grupo palestino de orientação mais laica e conciliadora, que atua na região da Cisjordânia.
O professor afirmou que a situação se agravou após a retirada de Israel da Faixa de Gaza em 2005 e a vitória eleitoral do Hamas em 2006, com 44% dos votos. “Eles assumiram e não quiseram democracia. A primeira ação foi perseguir e destruir os membros do Fatah”, relatou.
Celestino ainda apontou denúncias contra o Hamas, como a construção de túneis em áreas residenciais, o uso de civis como escudos humanos e a opressão de palestinos contrários ao grupo. Ele observou que a Faixa de Gaza, sob domínio do Hamas, vive sob tensão constante, ao contrário da Cisjordânia, onde há maior estabilidade.
Sobre os ataques do Hamas em outubro de 2023, que deixaram cerca de 1.200 mortos, o professor classificou a situação como “gravíssima” e lamentou o sofrimento de civis inocentes. Ele afirmou que os líderes do grupo se encontram fora da região, enquanto os combatentes são em sua maioria jovens treinados para a guerra, com a crença de que morrer em combate os transforma em mártires.
Celestino também alertou para a presença do fundamentalismo religioso em outros países, como Estados Unidos, Europa e Brasil. “O brasileiro não conhece o terrorismo, mas precisamos estar atentos ao avanço de ideologias que ameaçam a paz social”, alertou.
Ao ser questionado sobre a possível criação de um Estado Palestino, o professor opinou que este não é o objetivo do Hamas. “Eles não querem um estado, querem a destruição de Israel. É uma luta contra a existência do outro, e isso é inaceitável.”
Por fim, o professor defendeu o diálogo, a tolerância religiosa e a vigilância contra o fanatismo. “Enquanto não enxergarmos o outro como irmão, filho do mesmo Deus, não haverá paz. O mundo precisa despertar para o perigo do fundamentalismo e proteger os inocentes dessa ideologia de morte.”