Negócios de Família: como transformar laços afetivos em legados de sucesso
Para garantir continuidade e crescimento no negócio é preciso profissionalizar a gestão, planejar a sucessão e saber lidar com os conflitos

*Por Vinnie Oliveira
Você sabia que 9 em cada 10 empresas no Brasil têm raízes familiares? Os dados do IBGE mostram que negócios familiares são a espinha dorsal da economia brasileira. São padarias, pequenas indústrias, comércios e startups que nasceram da união de pais e filhos, irmãos e até primos. Mas como garantir que esse tipo de empresa não fique apenas na primeira geração?
No episódio desta semana da nossa coluna "Vamos em Frente", exibida na TV Tambaú, trouxemos um panorama realista e provocador sobre os bastidores dos negócios de família. Sim, a confiança e os valores compartilhados são grandes forças. Mas os desafios também são muitos — da dificuldade de separar o pessoal do profissional até os conflitos entre gerações e a falta de um plano de sucessão claro.
Segundo a Pesquisa Global de Empresas Familiares 2023, da PwC, 84% dos empresários brasileiros esperam crescer nos próximos dois anos, mas apenas 16% dizem ter uma estratégia ESG bem definida, e somente 29% se comunicam de forma transparente com funcionários sobre seus propósitos. Isso mostra que, para garantir um legado duradouro, é preciso evoluir com o tempo — e com o mercado.
O segredo está em transformar o afeto em estrutura: investir em governança familiar, estabelecer acordos claros, preparar as novas gerações e abrir espaço para o diálogo. Afinal, como bem destacamos na TV, o maior desafio dos negócios familiares não é vender mais, mas evitar que briguem na ceia de Natal e falem de planilhas em plena sobremesa.
Estes modelos de negócios são comuns como percebemos. Abaixo quero trazer alguns pontos de reflexão:
Pontos Positivos dos Negócios Familiares
- Confiança mútua: A base da relação entre familiares costuma ser a confiança. Isso cria um ambiente mais coeso e colaborativo.
- Agilidade nas decisões: Com menos burocracia e mais alinhamento de valores, decisões podem ser tomadas de forma rápida.
- Valores compartilhados: Empresas familiares tendem a manter uma identidade forte, com princípios ados de geração em geração.
- Comprometimento pessoal: Membros da família costumam estar mais envolvidos emocionalmente e financeiramente com o sucesso do negócio.
- Maior resiliência em crises: Estudos apontam que empresas familiares conseguem atravessar crises com mais estabilidade por causa do longo prazo como horizonte estratégico.
Como nem tudo são flores, precisamos estar atentos também aos pontos negativos:
- Conflitos geracionais: Pais e filhos podem ter visões diferentes sobre o futuro da empresa, o que gera resistência a mudanças.
- Sucessão mal planejada: Segundo a PwC, a falta de planejamento sucessório é uma das principais causas de falência em negócios familiares. Só 34% no Brasil possuem um plano estruturado.
- Mistura entre vida pessoal e profissional: É comum que discussões familiares afetem decisões de negócio — e vice-versa.
- Dificuldade de delegar: Proprietários fundadores, muitas vezes, centralizam funções e não permitem que novas lideranças floresçam.
- Falta de profissionalização: Nem sempre há meritocracia ou gestão técnica. Muitas funções são ocupadas por parentes sem a formação ideal.
Meus anos de convivência com negócios familiares
Ao longo dos anos convivendo com negócios familiares — seja como mentor, consultor ou simplesmente observador atento — percebo algo que sempre gosto de compartilhar: há mais virtudes do que problemas nesse modelo. A relação de confiança, o senso de pertencimento e o compromisso mútuo são ingredientes poderosos quando bem conduzidos.
É verdade que quando marido e mulher estão à frente da empresa, o desafio pode ser ainda maior. A linha entre o lar e o negócio se torna tênue, e a sobreposição de papéis muitas vezes gera desgaste emocional. No entanto, quando o amor é genuíno, ele se transforma em um combustível extraordinário, capaz de sustentar a empresa mesmo nos momentos mais difíceis.
Em todas as minhas consultorias e mentorias, costumo trazer um ponto essencial à mesa: o propósito. Alinhar os valores da empresa com os da família é o que garante não só a longevidade do negócio, mas também a preservação daquilo que realmente importa — a convivência, o respeito e o amor.
No fim das contas, nenhuma empresa deve ser maior que a família que a fundou. Negócios vêm e vão, mas os laços que nos unem precisam permanecer intactos. Esse é o legado que vale a pena construir.
#VamosEmFrente
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*Vinnie Oliveira é consultor, especialista em empreendedorismo e o autor da coluna Vamos em Frente